"Ela TEM de ir para a creche"




Como já referi várias vezes ao longo destes posts, se há coisa que eu odeio são as palpiteiras de serviço, especialmente aquelas que mal nos conhecem e acham que têm direito a dar uma opinião.

Claro que apesar do choque inicial, já me conformei com o facto de que, ao ser mãe, me exponho de alguma forma a esta gente cheia de certezas e bons conselhos. O melhor é, sem dúvida, sorrir e fazer de conta que somos tolinhas, que elas desistem logo. Mas cá por dentro…

Uma das polémicas mais acesas para quem não tem o que fazer é a tão temida creche. E porquê? Porque as pessoas têm de ter algo para dizer. Geralmente, na direcção do “ah e tal, devia fazer isto de maneira diferente” Ao qual tenho logo vontade de dizer que deviam era calar-se.




A L é uma criança extremamente tímida. Começa agora a ser mais aberta e a sorrir, mas por norma, e especialmente para desconhecidos, é uma criança fechada, não vai ao colo, não dá beijinho e se levarem um adeus com a mão, já estão cheios de sorte.

Ora, aparentemente, ninguém tem o direito a ser tímido ou querer estar no seu mundinho. Claro que que, como mãe, me preocupa tanta timidez, mas não posso dizer que ela não tem a quem sair. Eu era este tipo de criança também e, à medida que fui crescendo, fui mudando.

Como referi em posts anteriores, fomos viver para o campo, uma aldeia pequena, daquelas em que toda a gente se conhece e adivinhem lá: toda a gente tem opinião na vida de toda a gente. Apesar de já estar de regresso a Lisboa, não posso deixar de vos contar este episódio.

Fomos à única bomba de gasolina da vilazita abastecer o carro e a senhora do balcão começa a meter conversa. A L olhava de lado, nem um sorriso e quando ela tentou tocar-lhe, começou a tentar trepar para o meu colo.

A senhora olha-me chocadíssima como se a criança a tivesse agredido e eu explico que a menina é tímida e não está habituada a estranhos. “Ah, mas ela não vai para a creche?” pergunta-me, já com tom de crítica. Respondi que não secamente e a resposta que tenho é:

“Ah, mas ela tem de ir para a creche. Assim não pode ser.”

Tem de ir? Assim como? Fiz a minha expressão facial que é dificilmente traduzida em palavras, mas que faz 99% das pessoas darem-me tudo o que pedi sem abrirem mais a boca e a senhora aceitou o pagamento e não disse mais nada.

Naturalmente, que se a menina tivesse na creche era um Deus nos acuda, porque não passa tempo comigo, mas como está comigo, aqui d’el rei, porque não está na creche. Lembrem-me lá outra vez: porque é que não posso desatar ao estalo?

Comentários

  1. Ouvi esses comentários vezes sem conta. Diziam-me que os meus filhos iam ser bichos do mato por não frequentarem o jardim de infância, porque não socialização, porque não faziam actividades ou visitas de estudo.
    Tenho 2 caixas enormes com desenhos,pedras pintadas, bonecos,livros e eu sei lá mais o quê de coisas que fiz com eles. O Manuel nunca foi bicho do mato, e no caso dele ir para o jardim de infância foi o pior que lhe podia ter acontecido. E o pior é que eu não percebi. O terceiro e quarto anos foram um pesadelo, que o marcaram para a vida.
    Se eu soubesse o que sei hoje, tinha feito tudo de forma diferente e não tinha ouvido alguns familiares. Coração de mãe sabe o que é melhor, os outros outros podem meter as opiniões .... Enfim devíamos poder desatar à estalada sem irmos para a prisão.

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    Respostas
    1. Hahaha, Devíamos mesmo! Eu fico capaz de me atirar ao pescoço das pessoas quando vêm, cheias de certeza, opiniar sobre a criança, quando na maioria dos casos, nem a conhecem.
      Há coisas que se facto marcam para sempre, mas o Manel tem algo muito importante, que é o apoio dos pais, sempre ao lado dele. Eles sentem isso e ajuda-os a enfrentar tudo. :)

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