Depressão Pós-Parto: Porquê eu?

Hoje vou falar de um assunto sério e com o qual não há qualquer vontade/motivo para brincar. A Depressão Pós-Parto afecta cada vez mais mulheres e por vezes pergunto-me: somos mais fracas emocionalmente do que as mulheres eram antigamente? Será que aumentou assim tanto, ou os sentimentos eram ignorados? Será que elas não tinham problemas na vida e a chegada de uma criança era normal e linda como nos anúncios de margarina?

Não sei. Provavelmente nunca saberei, a menos que alguém se debruce com um estudo intensivo sobre isto. Mas a probabilidade de alguém o fazer é pequena. Porquê? Porque a depressão pós-parto é só mais uma mariquice de quem não tem o que fazer. Porque precisam é de se ocupar. Porque não importa. Porque passa. Não é? 

Não.



Quando há uma mudança brusca na nossa vida, qualquer mudança, há uma tendência para uma certa ansiedade e receio, que vai se desvanecendo, quando a mudança entra na rotina. Uma criança vai mais longe do que isto, em primeiro lugar não há rotina, nunca mais haverá, nada mais será controlado. Em segundo lugar, o sentido de responsabilidade é demasiado sufocante.

Cada vez mais, as mulheres cobram de si mesmas exigências mirabolantes. Têm de ser boas em tudo, no emprego, em casa, na cozinha… em tudo. Quando se tornam mães, mais perfeitas ainda têm de ser. Junte-se a isto meia dúzia de hormonas aos solavancos e temos o caldo entornado.

Não me vou alongar nos inúmeros motivos que contribuem para isto. Eles não importam, quando nos sentimos a afundar, quando a nossa maior alegria não pode ser vivida intensamente graças a essa doença estúpida. Vamos antes falar daquilo que sentimos e da necessidade de admitir para nós mesmas que sim, aconteceu comigo, agora é tratar do assunto.

Nem tudo são hormonas, chorar quando o bebé chora pode ser uma resposta normal, ter vontade de gritar e fugir quando ele está prestes a acordar, não. Sentir vontade de chorar porque o cansaço é muito e já é a terceira vez que temos de nos levantar e a noite ainda vai a meio é normal, tapar os ouvidos quando ele chora e gritar (ou ter vontade) não.

Quando a depressão começa a entrar na nossa vida, muitas mulheres sentem-se em total desespero e só apetece fugir, chorar e gritar. Não apetece ver ninguém, qualquer coisa que outra pessoa diga é o fim do mundo e, como as outras pessoas não respeitam ou desconhecem a nossa situação, não é possível evitá-lo. São também muitos os nossos momentos de apatia, em que ouvimos mas não ouvimos ou não somos capaz de responder adequadamente.

Só queríamos que o bebé dormisse o dia todo, a noite toda, para que pudessemos fazer o mesmo. Queríamos afundar na cama e não pensar em mais nada. Queríamos voltar à época em que achavamos que tinhamos muito que fazer, mas na verdade, não tínhamos. Não tinhamos de nos levantar, quer tivessemos dormido ou não. Não tinhamos de fazer comer se não tivessemos fome. Não era preciso um monte de coisas que só percebemos depois.

Cada pessoa reage de maneira diferente e tem sentimentos diferentes, o importante aqui é não os negar, é aceitarmos para nós mesmas que temos um problema e precisamos de ajuda. Não amigas, não vai passar, não é uma fase e não são as hormonas. Ou se for, que mal tem pedir ajuda na mesma? Não é preciso gritar aos 4 ventos, falem apenas com o vosso médico e o pai da criança. Sim, ele vai precisar de ter paciência e poderá ser uma grande ajuda para “correr” com pessoas indesejáveis.

Sentir tristeza não é errado, não tem nada a ver com os sentimentos para com a criança, não significa que são más mães. Nós, muitas vezes, com os primeiros sintomas não queremos aceitar, porque nos ensinaram que era errado, ensinaram que devíamos sorrir muito e ser muito felizes por acordar de 3 em 3 horas e ainda tinhamos de receber as visitinhas com boa cara e aceitar todos os comentários. E já agora, vejam se usam maquilhagem que estão com uma cara horrível.

Não. Não estão a rejeitar a criança nem a ser mal educadas para com pessoas que não respeitam a vossa necessidade de paz e sossego (ou talvez estejam, mas não se preocupem). Procurem ajuda. Porque o nascimento de um filho é um momento demasiado lindo, para nos preocupar-nos com tudo isto. ;) 

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